20 fevereiro 2013

Resenha: Cinquenta Tons De Cinza


E. L. James
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 480
Ano Edição: 2012
Avaliação: Ruim.

Sinopse

Quando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a despeito da enigmática reserva de Grey, está desesperadamente atraída por ele. Incapaz de resistir à beleza discreta, à timidez e ao espírito independente de Ana, Grey admite que também a deseja - mas em seus próprios termos. Chocada e ao mesmo tempo seduzida pelas estranhas preferências de Grey, Ana hesita. Por trás da fachada de sucesso - os negócios multinacionais, a vasta fortuna, a amada família -, Grey é um homem atormentado por demônios do passado e consumido pela necessidade de controle. Quando eles embarcam num apaixonado e sensual caso de amor, Ana não só descobre mais sobre seus próprios desejos, como também sobre os segredos obscuros que Grey tenta manter escondidos...

Resenha

 Um viral desnecessário - E o machismo erotizado.


 O mais novo fenômeno da literatura, ''Cinquenta tons de Cinza, originalmente intitulado ''Fifty Shades of Grey'', tem causado alvoroço entre a mídia e os leitores. Em suas primeiras semanas de lançamento, apenas no Brasil, o primeiro livro da trilogia de E.L James alcançou a incrível marca de 200 mil cópias vendidas e continua sendo um sucesso de vendas, uma vez que a estratégia de marketing funciona bem e atrai leitores curiosos.

 O livro traz a estória de Anastasia Steele, uma inocente estudante de literatura que aos 21 anos de idade divide o apartamento com Kate Kanavagh, sua colega de faculdade. Quando Kate sente-se indisposta no dia em que precisa realizar uma importante entrevista para o jornal da faculdade, Ana aceita ir até a Grey Enterprises em seu lugar onde conhece e interroga o magnata milionário e maníaco por controle Christian Grey, CEO da Grey Enterprises Holding, Inc.

  Após conceder a embaraçosa entrevista, Grey passa a demonstrar um inexplicável interesse por Ana, presenteando-a com mimos como primeiras edições de clássicos literários caríssimos, um computador supermoderno, um celular blackberry e até um carro; não apenas um carro, um Audi. Obviamente, Ana retribui a todo interesse – que de tão repentino, não convence - e se apaixona pelo milionário que, passado um tempo, revela à jovem inocente e virgem Anastásia quais são as suas verdadeiras intenções, introduzindo a garota ao submundo do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação,Submissão, Sadismo e Masoquismo),e oferecendo-lhe ainda uma insólita proposta onde Anastásia passaria a ser sua submissa sexual.


Recheado com clichês e diálogos mal construídos, o livro peca principalmente pelo uso da linguagem excessivamente prolixa, o que acaba afetando a leitura e tornando-a enfadonha. A escritora se preocupa em descrever com exatidão e com um extenso acervo de palavras elementos triviais, como a cor do tapete de uma sala, a refeição de Grey ou os detalhes mais irrelevantes de sua aparência física perfeita – Na verdade, a palavra ‘’lindo’’ talvez seja a mais mencionada. Entretanto, ainda não é a linguagem muito pobre, digna de romances baratos de bancas de revistas, nem a trama totalmente previsível e açucarada que torna o primeiro livro da trilogia de E.L James o monte de folhas mais vergonhoso que eu já tive o desprazer de ler: É a péssima construção de seus personagens.

  Aos que não sabem, Cinquenta tons de cinza originalmente foi uma fanfic inspirada na Saga Crepúsculo que fez algum sucesso entre os fãs e acabou sendo adaptado e inexplicavelmente publicado. Ao leitor, a procedência amadora não passa despercebida, assim como a semelhança entre os personagens de James e Stephanie Meyer. Claramente, Anastásia Steele se assemelha a Isabella Swan, de Crepúsculo; e não para por aí; o mesmo acontece a todos os outros personagens, despertando no leitor que já teve a oportunidade de ler algum livro da saga de Meyer, uma irritante sensação de Déjà Vu, proporcionada pela indiferença de E.L james no processo de criação de seus próprios personagens.

  Durante a leitura, é possível ainda observar a personalidade confusa, hesitante e submissa da personagem principal, que ao longo da estória é atormentada pelos seus anseios e medos, representados por dois extremos que ela intitula ‘’ Deusa Interior’’ e ‘’Consciência’’. Se por um lado, sua Deusa interior a atormenta, impulsionando-a a ceder aos encantos de Grey, por outro lado sua Consciência a alerta sobre as possíveis consequências que suas atitudes passionais irão lhe assegurar. Esta seria uma boa forma de humanizar a personagem – apresentando ao leitor os conflitos internos de Anastásia, pelos quais todo ser humano já passou – entretanto, as longas deliberações que esses extremos lhe garantem continuam acontecendo durante todo o livro, mas não levam Anastásia a tomar decisão alguma, fazendo com que este seja apenas mais um dos muitos fatores frustrantes encontrados na obra de James.

  Em relação à Cristian Grey, nota-se que a autora criou a personificação do homem perfeito, ou quase isso, uma vez que ele tem como hobbie uma prática um tanto violenta e possuiu uma personalidade extremamente possessiva e controladora, chegando a monitorar até mesmo as refeições de Anna, assim como suas vestes e comportamento, estipulando horários que ela deve cumprir com pontualidade, deixando bem claro quem é o ser dominante da relação.

  O intrigante sobre os fatos supracitados é que em pleno século XXI, em uma sociedade que lutou e continua lutando assiduamente para desvencilhar-se do machismo, um livro como ‘’Cinquenta Tons de Cinza’’ (repleto de inclinações machistas que, aqui, são muito bem maquiadas com erotismo) tenha causado impressões tão positivas entre a população feminina.

  O motivo mais plausível para o sucesso da obra, acredito, deve-se – além de ao marketing pesado – à curiosidade dos leitores, instigada pelo tema relativamente polêmico que é o BDSM, entretanto, até mesmo este tema é pouco explorado aqui, sendo abordado em apenas algumas cenas e de forma superficial, tornando a exótica pratica BDSM em BDSM com leite e açúcar.

  Cinquenta tons de cinza não possui um desfecho, apenas um fim da primeira parte, que, devo adiantar: é constrangedor. Há uma deixa para a sua continuação ‘’Cinquenta tons mais escuros’’, mas, uma vez que ‘’Cinquenta tons de cinza’’ é totalmente dispensável, eu presumo que os dois livros que o sucedem também sejam.

  Então, se planeja lê-lo, eu sugiro que procure outro livro. Felizmente, temos à nossa disponibilidade uma gama rica e diversificada de obras realmente incríveis, de novos autores realmente talentosos, que por causa de livros puramente comerciais como ‘’50 tons’’ acaba tendo seu brilho ofuscado pelo marketing viral em torno desses lixos literários que a mídia tem tentado nos fazer engolir.

  Três palavras para você, leitor: Não caia nessa. 


8 comentários:

  1. Eu gostei do livro mas também achei o seu texto bom e com bom fundamento. legal.

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  2. Alguém que teve coragem de expor um ponto de vista se deixar-se levar pelas fantasias da mídia. Adorei sua resenha, está muito boa mesmo.

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  3. Ual, muito boa essa resenha. Adorei mesmo.

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  4. Eu gostei da resenha e concordo em partes... O livro realmente não é bom, com personagens mal construídos e com diversas falhas... Mas também entendo o sucesso e alvoroço em torno dele, e na minha humilde opinião, nada tem a ver com BDSM e sim com o romantismo em demasia, uma estória de amor e sexo com tentativas pra mim "falhas", mas pra maioria das pessoas com "sucesso" na estereotipagem do "homem perfeito"

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  5. Gostei muito da sua visão sobre o livro, e concordo plenamente: Lixo Literário!

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